sexta-feira, 11 de julho de 2008

História da Química

Descoberta do fogo e metalurgia



A espécie humana não foi dotada dos atributos físicos comuns aos predadores: não possui garras, nem presas afiadas, nem faro aguçado. Também não possui a agilidade física necessária para escapar desses predadores, como correr em grande velocidade, saltar muito alto ou subir em árvores com rapidez.
Isso provavelmente teria levado nossos ancestrais primitivos à extinção, não fosse por um detalhe, a inteligência, a capacidade de observar o que está acontecendo, raciocinar, experimentar, aprender e finalmente atuar, transformando e adaptando o meio ambiente conforme as próprias necessidades. Foi assim que a espécie humana dominou as outras espécies.
Quem detém o conhecimento das transformações detém o poder.
É através do conhecimento, da tecnologia, do chamado know-how (como fazer) que determinados grupos de seres humanos acabam se impondo sobre outros ou que determinado país impõe sua soberania.
Por exemplo, como enfrentar um país que possui a tecnologia da bomba atômica, capaz de matar 66 000 pessoas e ferir outras 69 000 em questão de segundos como ocorreu em Hiroshima em 1945?
Resta reconhecer sua soberania e tratar de adquirir o conhecimento dessa tecnologia para não ficar eternamente suscetível a um ataque. É dessa forma que a história vem se desenvolvendo desde o início da atividade humana na Terra, principalmente a história da Química, que trata justamente das transformações.
O ser humano utiliza sua inteligência para dominar as outras espécies e a sua própria. Os seres humanos que ficam em desvantagem aceitam temporariamente a superioridade do outro até adquirirem o conhecimento que os colocará em posição igual ou superior, recomeçando um novo ciclo.
Estima-se que há 2 000 000 de anos a.C. nossos ancestrais primitivos utilizavam fragmentos de pedra de vários formatos e pedaços de madeira que recolhiam pelo caminho como instrumentos para sobreviver aos predadores e conseguir alimento. Esse período ficou conhecido como a "idade da pedra lascada".
O domínio do fogo, que ocorreu a 500 000 anos a.C., foi, provavelmente, a primeira transformação química que a espécie humana aprendeu a utilizar para facilitar seu dia-a-dia, por exemplo, para se aquecer, manter os predadores afastados, cozinhar e defumar os alimentos (o cozimento facilita a mastigação e a digestão, e a defumação aumenta a conservação das carnes).
O Homo sapiens impôs-se como espécie dominante a partir de 30 000 a.C., mas sofreu um grande avanço apenas no período entre 10 000 a.C. e 5 000 a.C., quando aprendeu que podia afiar e moldar melhor seus instrumentos se esfregasse as pedras umas nas outras ou uma pedra em um pedaço de madeira, razão pela qual esse período é denominado "idade da pedra polida".
Foi justamente por volta de 7 000 a.C. que o ser humano começou a fabricar utensílios de cerâmica (para armazenar água e alimentos) e tijolos cozidos para construção de fornos que, além de permitirem a produção segura de fogo, possibilitaram o desenvolvimento da técnica da metalurgia.
Os objetos feitos de pedra polida eram muito difíceis de serem trabalhados, por isso, a descoberta dos metais, que podem ser moldados sob aquecimento sem perder a resistência, representou um progresso significativo para as civilizações.
Os primeiros metais com que o homem teve contato foram aqueles raros, encontrados puros na natureza, como o ouro, a prata, o cobre e o ferro dos meteoritos que caíam na Terra. Acredita-se que o cobre metálico já era conhecido desde a idade da pedra lascada, mas, devido a sua escassez, não era utilizado. Os minérios de cobre, no entanto, eram muito mais abundantes, e nossos ancestrais primitivos aprenderam, provavelmente por acidente, que, aquecendo ao fogo aquelas pedras azuis (azurita ou carbonato básico de cobre II), poderiam obter cobre metálico, embora esse processo só tenha sido verdadeira­mente reconhecido como uma técnica em torno do ano 4 000 a.C.
Acredita-se que o bronze — uma liga ou mistura de cobre e estanho — também tenha sido produzido pela primeira vez por simples acaso, quando os minérios de cobre e estanho foram aquecidos simultaneamente em um forno de cerâmica.
O cobre puro é muito mole para a confecção de armaduras, pontas de lança e instrumentos agrícolas, mas o bronze é ideal para essas finalidades. Naquela época, porém, nossos ancestrais não reconheciam a diferença entre esses dois materiais, acreditavam apenas que o bronze era um tipo de cobre de melhor qualidade. Assim, por volta de 3 000 a.C. teve início a "idade do bronze" e a civilização primitiva evoluiu.
A metalurgia do cobre e do bronze abriu caminho à do ferro e à do aço (uma liga ou mistura de ferro e carbono). O minério de ferro era muito mais abundante que o minério de cobre, mas as tentativas iniciais de obter ferro metálico pelo mesmo processo que o do cobre resultaram num material quebradiço, pouco resistente e inútil.
Por volta de 1 400 a.C., um povo que vivia na Anatólia, região do Oriente Médio onde hoje se situa a Turquia, denominado hitita, conseguiu aperfeiçoar a técnica da metalurgia do ferro. O ferro obtido no forno vinha carregado de impurezas; os hititas aprenderam que para expulsar essas impurezas e obter um material mais resistente e maleável deveriam aquecer, martelar e resfriar o ferro diversas vezes.
Como o minério de ferro era muito abundante na natureza e os hititas eram os únicos que dominavam as técnicas de sua metalurgia, puderam fabricar grandes quantidades de armas, tornando-se guerreiros invencíveis.
Com esse conhecimento os hititas conquistaram um vasto império, que foi mantido por dois séculos, até que outros povos descobriram o processo da metalurgia do ferro e puderam fabricar armas para combatê-los. Esse período ficou conhecido como a "idade do ferro".
Os metais foram muito importantes na evolução das civilizações primitivas, e a prática da metalurgia resultou em uma enorme riqueza de informações sobre as transformações químicas.
De acordo com alguns especialistas, a palavra química é derivada de uma palavra antiga khemeia, que pode estar relacionada com o nome que os egípcios davam ao próprio país, Kham. Contudo, alguns estudiosos acreditam que Química se origina da palavra chyma, que significa "fundir" ou "moldar um metal".

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